A dieta Dukan ficou famosa no mundo inteiro
depois que celebridades como Penélope Cruz, Beyoncé e Sandra Bullock relataram
ter perdido peso seguindo o método. Para quem não conhece a proposta é uma
dieta de 4 fases, com as seguintes características:
A fase 1 ou de “ataque” tem duração de 10 dias. Assemelha-se à
nova dieta Atkins,
na qual proteínas estão liberadas em qualquer quantidade, como carnes magras,
peito de peru, frango, clara de ovo, laticínios, peixe, café e chás sem açúcar.
Como diferencial está a inclusão do farelo de aveia para evitar a constipação
comum em dietas restritivas. Também é recomendado o consumo diário de dois
litros de líquidos.
Na fase 2 são liberadas as verduras e os legumes, com exceção
daqueles com maior índice glicêmico como as batatas. Esta fase prossegue até
que se atinja o peso ideal.
A fase 3 ou de “consolidação” repete o cardápio da fase 2 com o
acréscimo de duas fatias de pão ao dia e duas porções de massa por semana. A 4a
e última fase, chamada de “estabilização”é a aquela em que a dieta é liberada,
sendo permitido o consumo de qualquer tipo de alimento, em quantidades moderadas.
A única restrição é que uma vez por semana deve-se seguir a dieta hiperproteica
da fase 1.
A questão é: funciona? Sim, pelo menos por algum tempo. A
maioria dos estudos mostra que dietas hiperproteicas são rápidas em gerar perda
de peso. A proteína sacia, a diminuição no consumo de carboidratos leva a perda
de glicogênio e água estocados.
O problema é o mesmo de qualquer tipo de dieta restritiva. A
maioria das pessoas não consegue seguir a dieta por muito tempo. Por isto, a
longo prazo observa-se redução da perda de peso, ou pior, ganho de todo o peso
perdido. Sem chegar à fase 4 do plano alimentar Dunkan, que é a mais parecida
com a de uma reeducação alimentar, maus hábitos antigos retornam e os estoques
de gordura também.
O grupo CCM Benchmark investigou os efeitos da dieta Dukan
alguns anos depois de ter sido feita. Um questionário online foi
respondido por cerca de cinco mil internautas. O levantamento mostrou que
75% das pessoas que haviam feito a dieta Dunkan há mais de dois anos haviam recuperado
o peso eliminado. Dietas não individualizadas possuem pequenas chances de darem
certo. Nosso estilo de vida pode mudar, nossos gostos, nossa rotina, nosso
metabolismo. Adaptações são necessárias ao longo da vida. Estudos que comparam
dietas hiperproteicas com outros tipos de dieta (da pirâmide, mediterrânea ou
qualquer outra) sempre mostram que quem segue a dieta (seja ela qual for) perde
peso. E quem foge da dieta (seja ela qual for) e retorna aos antigos hábitos
ganha peso novamente. Ou seja, manter hábitos alimentares saudáveis a longo
prazo é o que importa.
Na Espanha, a Agência de Segurança Alimentar e Nutrição e a
Associação Espanhola de Dietistas e Nutricionistas consideram que a
popularidade da dieta Dukan é decorrente de uma estratégia de marketing
inteligente e forte, mas não de um real efeito positivo. Já na
França, os especialistas da Agência Nacional de Segurança Alimentar
desencorajam dietas desequilibradas, pois não existem estudos a longo prazo que
avaliem indivíduos que tenham passado anos em dietas hiperproteicas.
Minha recomendação é diminuir um pouco os carboidratos,
substituindo os de alto pelos de baixo índice glicêmico. Além de trocar arroz
branco pelo integral, batata inglesa por batata doce e sucrilhos por aveia ou
quinua, lembre: o mais importante é ficar longe das padarias, confeitarias e
alimentos super industrializados e cheios de açúcar. Além do emagrecimento, um
dos pontos positivos da redução do consumo de carboidratos é a diminuição da proteína C-reativa, um
marcador inflamatório.
Concordo que o alto consumo de carboidratos seja um dos
principais responsáveis pela síndrome da obesidade observada em todo o mundo.
No Brasil também consumimos carboidratos exageradamente, seja na forma de
arroz, batatas, macarrão, pizza, biscoitos, açúcar, sucos adoçados,
refrigerantes, doces… O consumo destes alimentos precisa ser reduzido com
urgência. Os pais tem uma grande responsabilidade não enchendo a dispensa com
guloseimas e alimentos infantis açucarados. Por outro lados muitos alimentos
ricos em carboidratos são também fontes de fibras, vitaminas e minerais,
fundamentais para nosso bem estar e para a prevenção de doenças. Ainda acredito
que frutas e verduras devem ser consumidos em abundância, que cereais integrais
(arroz, quinua, aveia…) e leguminosas (feijões, ervilha, lentilha, grão de
bico…) podem fazer parte de uma dieta saudável, palatável e apropriada à nossa
cultura. Alimentos ricos em proteínas são importantes, geram saciedade, são
nutrientes essenciais à produção de hormônios, enzimas, anticorpos, tecidos em
geral. Ainda indico proteínas magras, pois alimentos mais ricos em gordura
elevam o colesterol e os estudos mostram, desde 1996, que o
aumento do colesterol plasmático associado ao alto consumo de gorduras aumenta
a susceptibilidade de peroxidação do LDL colesterol (o famoso colesterol
“ruim”), fator de risco para doenças cardiovasculares, principalmente em
indivíduos diabéticos. Para reduzir a peroxidação lipídica a dieta deve ser
rica em antioxidantes, mais um motivo para não adotarmos dietas pobres em
frutas e verduras.
Um dos pontos que discordo sempre nas dietas proteicas como
Atkins ou Dukan é o tal “consumo livre” de qualquer proteína animal, sejam elas
carnes, salsichas, linguiças ou ovos. Comer muito, sejam alimentos com alto
índice glicêmico, sejam proteínas animais ricas em leucina aumenta a produção
de radicais livres e o envelhecimento celular, as chances de diabetes, obesidade e câncer, como o de próstata.
Comer menos é uma das razões pelas quais os orientais vivem mais.
Como sempre, moderação e equilíbrio são chaves
para uma vida saudável.
Juliana
Mendes
Nutricionista
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